Diversos são os motivos que justificam a falta de alternativas de moradia para pessoas idosas, considerando-se a variedade de necessidades e desejos que caracterizam a heterogeneidade da velhice. Já é evidente que há nonagenários continuando a trabalhar vigorosamente e sexagenários com necessidades especiais, o que determina a existência de diferentes velhices. Mesmo assim, o preconceito de que velhos ficam em casa ou são “levados para o asilo” ainda existe, acarretando percepções limitadas. A arquiteta Lara Kaiser apresenta reflexões que descrevem motivos que justificam essa resistência (https://www.linkedin.com/pulse/por-que-o-brasil-ainda-não-dispõe-de-vilas-para-idosos-lara-kaiser/).
O Brasil ainda não achou a fórmula para gerir de uma forma acessível residenciais para idosos, mas o envelhecimento da população coloca há alguns anos a questão como prioritária para os próximos anos. (…) Outro ponto é a nossa falta da cultura de residência para a terceira idade, o que faz com que muitos brasileiros pensem em residências seniores como asilos, aquela ideia ultrapassada e horrível de serem “depósitos de idosos”. Não é nada disso.
Profissionais sérios como ela têm buscado trazer novas hipóteses para discussões amplas sobre o tema da moradia adequada na velhice, também o objetivo deste blog. O bioengenheiro Norton Mello tem oferecido reflexões importantes nesse sentido, tais como as que publicou através da sua pesquisa sobre “organizações em todos os continentes e que gerou o primeiro livro em língua portuguesa (2020) sobre esse tema”.
Os modelos europeus nórdicos dão ênfase à cidadania, não se trata de privilégio, mas de um direito. Os modelos europeus latinos possuem um mix de filantropia e assistencialismo estatal, mais ou menos como ocorre em parte da Ásia e Oceania. Já nos Estados Unidos temos um modelo mais focado em um negócio privado que, inclusive, tem forte presença na bolsa de valores.
Embora já sejam encontradas estruturas residenciais diferenciadas para pessoas idosas no Brasil, ainda partem de projetos direcionados a públicos exigentes e que consideram pagar mais por estes serviços. Por mais que haja custos significativos, especialmente com colaboradores especializados, apropriar-se de dispositivos tecnológicos que sejam utilizados como coadjuvantes do cuidado pode melhorar muito o desempenho tanto no uso do tempo quanto na qualidade das relações. Adquiridos isoladamente tornam-se mais onerosos, mas políticas públicas eficientes conseguiriam racionalizar esses procedimentos, desde que associando o uso com treinamento e manutenção adequados. É preciso trazer esse assunto para discussões nos mais diversos grupos, desde os pesquisadores efetivamente preocupados com soluções para todas as classes sociais até o poder público de todas as esferas, visto que a longevidade se trata de uma mudança epidemiológica significativa e impactante para a economia do país. Não é possível conduzir esse assunto sem o esforço da sociedade como um todo, para a garantia dos direitos de todos os cidadãos.

