Como seria viver onde moramos se tivéssemos 90 anos?

Essa proposta de reflexão tem sido desenvolvida pelos estudantes do Bacharelado em Gerontologia da Universidade de São Paulo, na disciplina denominada Habitação e Cidade para o Envelhecimento. A partir de conteúdos relacionados à ambiência, tais como ergonomia, acessibilidade e conforto ambiental, exercita-se em um caso simulado e, depois, uma situação de empatia, colocando-se no lugar de uma pessoa idosa longeva na observação das suas próprias moradias. A primeira reação é de que seria impossível, porque já percebem diversos aspectos que, antes, passavam longe de serem problemas. Mas a partir do momento que se colocam na pele de alguém com decréscimo de funcionalidade, detalhes antes irrisórios passam a ser notadamente importantes para evitar quedas e outros incidentes possíveis. 

Observar os pisos é um primeiro passo, pois altera as sensações relativas à temperatura e acústica do ambiente, assim como pode apresentar pequenos ressaltos ou degraus. Para compensar, o uso de tapetes não será um risco se estiverem posicionados de modo a não enrolar os cantos e sem deslizar. O uso desses complementos torna o ambiente mais aconchegante por controlarem ecos e contato direto com superfícies frias, em especial no inverno. Outro fator importante é sobre a iluminação e ventilação natural, incluindo o sistema de abertura e os formatos das maçanetas, pois há diminuição de força e a necessária redução do esforço. O design dos móveis pode favorecer ou dificultar o uso, embora o hábito leve ao condicionamento para a utilização. Organizar o espaço com peças efetivamente úteis, estando firmes e sem cantos perigosos para possíveis esbarrões, preferir assentos com alturas que facilitem levantar e com apoios laterais e, principalmente, manter passagens livres para uma circulação bem definida.

Cozinhas são ambientes de produção e exigem muito boa iluminação. As alturas dos armários e gavetas devem possibilitar alcance sem a ajuda de suportes, ou seja, o que for de uso mais frequente deve estar próximo e sem exigir esforço. Os banheiros são locais de uso diário e igualmente devem contar com boa iluminação, mesmo artificial, com ventilação natural ou mecânica. É preferível que o piso seja antiderrapante, mas o uso de tapetes emborrachados e com boa fixação é útil ao sair do box com chuveiro. Na hora do banho, tapetes de borracha com ventosas não escorregam, mas devem ser retirados para secar para que não criem bolor. Torneiras e registros que permitam boa empunhadura evitam que a diminuição da força dificulte o uso e o espelho deve estar em altura conveniente ou com pequena inclinação para frente, facilitando a visualização.

Não pensar em um futuro com decréscimo de funcionalidade faz com que a busca de soluções seja feita quando já há urgência, o que pode ser evitado se a reflexão proposta na disciplina mencionada e sobre alguns desses conteúdos for praticada enquanto jovens. Hoje a quantidade de nonagenários ativos é grande, o que tem levado ao aumento de centenários, comprovando que o aumento da longevidade é uma realidade evidente. Pensar sobre como será a moradia na velhice pode evitar sobressaltos e dificuldades: a solução é ser modular.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.