Essa proposta de reflexão tem sido desenvolvida pelos estudantes do Bacharelado em Gerontologia da Universidade de São Paulo, na disciplina denominada Habitação e Cidade para o Envelhecimento. A partir de conteúdos relacionados à ambiência, tais como ergonomia, acessibilidade e conforto ambiental, exercita-se em um caso simulado e, depois, uma situação de empatia, colocando-se no lugar de uma pessoa idosa longeva na observação das suas próprias moradias. A primeira reação é de que seria impossível, porque já percebem diversos aspectos que, antes, passavam longe de serem problemas. Mas a partir do momento que se colocam na pele de alguém com decréscimo de funcionalidade, detalhes antes irrisórios passam a ser notadamente importantes para evitar quedas e outros incidentes possíveis.
Observar os pisos é um primeiro passo, pois altera as sensações relativas à temperatura e acústica do ambiente, assim como pode apresentar pequenos ressaltos ou degraus. Para compensar, o uso de tapetes não será um risco se estiverem posicionados de modo a não enrolar os cantos e sem deslizar. O uso desses complementos torna o ambiente mais aconchegante por controlarem ecos e contato direto com superfícies frias, em especial no inverno. Outro fator importante é sobre a iluminação e ventilação natural, incluindo o sistema de abertura e os formatos das maçanetas, pois há diminuição de força e a necessária redução do esforço. O design dos móveis pode favorecer ou dificultar o uso, embora o hábito leve ao condicionamento para a utilização. Organizar o espaço com peças efetivamente úteis, estando firmes e sem cantos perigosos para possíveis esbarrões, preferir assentos com alturas que facilitem levantar e com apoios laterais e, principalmente, manter passagens livres para uma circulação bem definida.
Cozinhas são ambientes de produção e exigem muito boa iluminação. As alturas dos armários e gavetas devem possibilitar alcance sem a ajuda de suportes, ou seja, o que for de uso mais frequente deve estar próximo e sem exigir esforço. Os banheiros são locais de uso diário e igualmente devem contar com boa iluminação, mesmo artificial, com ventilação natural ou mecânica. É preferível que o piso seja antiderrapante, mas o uso de tapetes emborrachados e com boa fixação é útil ao sair do box com chuveiro. Na hora do banho, tapetes de borracha com ventosas não escorregam, mas devem ser retirados para secar para que não criem bolor. Torneiras e registros que permitam boa empunhadura evitam que a diminuição da força dificulte o uso e o espelho deve estar em altura conveniente ou com pequena inclinação para frente, facilitando a visualização.
Não pensar em um futuro com decréscimo de funcionalidade faz com que a busca de soluções seja feita quando já há urgência, o que pode ser evitado se a reflexão proposta na disciplina mencionada e sobre alguns desses conteúdos for praticada enquanto jovens. Hoje a quantidade de nonagenários ativos é grande, o que tem levado ao aumento de centenários, comprovando que o aumento da longevidade é uma realidade evidente. Pensar sobre como será a moradia na velhice pode evitar sobressaltos e dificuldades: a solução é ser modular.

