Para alguns, o avanço da idade significa o aumento de perdas e a contagem regressiva para a morte. Para outros, mais atentos ao próprio ciclo de vida, adaptar-se a cada década é um movimento natural. Estar na casa dos 20 ou 30 anos, quando o vigor da juventude almeja crescimento pessoal e profissional, faz com que a velhice esteja tão distante que nem seja importante pensar sobre isso. Mas aos 40, 50, 60… já se torna importante criar estratégias que mantenham o prazer em viver. No conto A Nova Casa, de Carlos Eduardo Novaes, o avanço da idade é percebido como positivo e a longevidade como um fator de oportunidade para uma vida proveitosa até o fim.
Meu amigo Rick está se mudando. Mês que vem deixa a casa dos 70 e de mala e cuia se muda para a casa dos 80. Rick pretende viver uns bons anos na nova casa, mais próxima do fim da rua.
Ele sabe que estou morando lá há mais de dois anos e perguntou-me se gostei da mudança. Ora, não se tratou de gostar ou não. Terminou meu tempo na casa dos 70 depois de 10 anos, e saí feliz porque podia ter sido despejado antes do final do contrato.
Assim como a casa dos 20 lembra uma universidade, a casa dos 60, um posto do INSS, a casa dos 80 lembra uma clínica geriátrica. Lembrava! Quando entrei na casa a primeira surpresa foi vê-la cheia de “cabeças brancas”. Na época da minha avó alcançar a casa dos 80 era uma façanha olímpica, para poucos. A segunda e maior surpresa foi ver a “rapaziada”, pulando, malhando, correndo, namorando, como se não houvesse amanhã.
De uns anos para cá a casa dos 80 foi aumentada com vários puxadinhos, para abrigar tanta gente. E não é só! Da minha janela vejo que estão reformando a casa vizinha que estava caindo aos pedaços, a casa dos 90.
Disse ao meu amigo que a casa dos 80 tem um estilo anos 40, estilo vintage, pé direito alto, esquadrias em arco, piso de tacos de madeira, cadeiras de palha e uma imponente cristaleira. Claro que precisa de cuidados e manutenção constante, muito mais do que a casa dos 30, para evitar rachaduras e infiltrações. Em compensação, amigos, tem a mais bela vista do Passado.
Rick vai gostar. Vai se sentir em casa dos 70, talvez dos 60.
A moradia é o espaço de vida onde as memórias estão armazenadas sob a forma de lembranças tangíveis ou não, mesmo quando há mudança de endereço. Cada década de vida tem suas importâncias, assim como exige uma confortabilidade proporcional às funcionalidades dos seus ocupantes. Se estiverem preparados para as mudanças de lugar, igualmente devem estar preparados para as mudanças de desejos e necessidades, para buscarem a melhor alternativa. A ideia do imóvel para a vida toda não é real, pois os eventos que se originam de casamentos, heranças, aumento ou diminuição da família e novas perspectivas profissionais resultam em novas possibilidades. Mudar de casa, seja o imóvel ou a idade, será sempre uma oportunidade de viver com novas perspectivas, em busca de conforto e segurança.

