Quando pensamos em boas condições de moradia, torna-se significativo o enfoque nas características do bairro. Geralmente a localização define o valor imobiliário, sendo esse um fator de caracterização do tipo de comércio e serviços existentes. Na Folha de São Paulo do último dia 13 de abril, a arquiteta e jornalista Priscila Mengue reportou sobre o Guia My Neighborhood, lançado no início deste ano pela ONU Habitat, que busca promover um desenvolvimento urbano social, econômico e ambientalmente sustentável. O guia apresenta indicações para melhorias no transporte, na habitação, nos espaços públicos e em outros aspectos cotidianos do bairro, visando a um planejamento urbano integrado. Organiza a cidade em cinco áreas temáticas: compactas, conectadas, vibrantes, inclusivas e resilientes. 

Bairros compactos têm o essencial a uma curta distância (atendimento em saúde, escola, comércio, serviços, moradia e lazer), cerca de 400m e a cinco minutos. Para isso, deve haver alta densidade (150 hab/ha – São Paulo tem metade) e ruas com acessibilidade, usos diversificados, vias que não priorizam veículos automotores e apresentam infraestrutura para mobilidade a pé e bicicleta. Ocupação de 40% a 60% para comércio e serviços, 30% a 50% às residências e 10% aos serviços públicos. 

Bairros resilientes são mais adaptados para mudanças climáticas extremas, sustentando o “funcionamento de serviços e sistemas urbanos”, de acordo com o guia. Nisso são consideradas intervenções na infraestrutura de captação de águas pluviais e a ambiência urbana através de arborização adequada nas vias, em parques e praças. Igualmente importante a construção de edificações para aumento da densidade e melhor aproveitamento do consumo de energia, sendo mais sustentáveis.

Bairros conectados são aqueles que facilitam a caminhabilidade urbana, com “espaços públicos abertos, vibrantes, seguros, atraentes e acessíveis”. Nesse caso, considera-se que haja redução da velocidade dos veículos e da área destinada a eles, favorecendo pedestres e ciclistas.

Bairros inclusivos contêm “serviços, emprego, transporte, espaço público e oportunidades” a todos da vizinhança. A oferta de habitação atende a público variado em padrões socioeconômicos e “atrai uma gama variada de residentes”, reduzindo a elitização e oferecendo boa infraestrutura. 

Bairros vibrantes oferecem diversas atividades, oportunidades e serviços, em especial na borda da rua, ativando-a e permitindo soluções arquitetônicas em opções variadas em tamanho e características. 

Embora a localização determine o padrão de moradia em cada bairro, as recomendações do guia apontam para a possibilidade de oferecer melhores opções em quaisquer áreas urbanas. As características de moradia mais desejáveis para o envelhecimento na cidade são aquelas que estejam de acordo com a capacidade financeira e funcional, oferecendo boa qualidade de vida e a perspectiva de uma velhice ativa, saudável e feliz.