Quais estratégias individuais possibilitam convivências positivas para evitar a solidão?

Solidão é um tema muito abordado nas diversas formas de expressão artística. Pode remeter a abandono, tristeza, isolamento, saudade… enfim, a emoções negativas, que caracterizam a diferença relativa à solitude, quando há o desejo de estar só e há prazer nessa situação. De acordo com a jornalista Clare Roth, solidão é um fenômeno mundial e que vem desde antes da pandemia pela Covid 19, atingindo pessoas de todas as idades, destacando o quanto é importante a proximidade com pessoas importantes nas suas vidas (https://portaldoenvelhecimento.com.br/estamos-ante-uma-crise-de-solidao/).

Podemos não ter os melhores dados sobre a solidão, mas sabemos como é e, com o tempo, podemos aprender a reconhecer os sintomas. E podemos aprender como lidar com isso. (…) Quando negligenciamos o que é importante para nós, muitas vezes esquecemos de nos concentrar nos relacionamentos pessoais com familiares e amigos, ou amigos em potencial.

Além da convivência com pessoas que possibilitem bons momentos e acrescentem valores à vida, é preciso ter com quem contar, e é aí que reside o conforto que afasta o sentimento de solidão. Morar só nem sempre é ruim, assim como morar com outras pessoas nem sempre afasta a solidão. Ao considerar pessoas idosas, entram na equação a saída dos filhos ou a falta deles, assim como os companheiros de vida em uniões afetivas. 

No filme Testamento (Canadá, 2024), o protagonista inicia a história descrevendo como passou a vida convicto de princípios que direcionaram as suas decisões, incluindo nunca se casar. Aos 73 anos, morando em um residencial sênior e em um apartamento confortável e espaçoso, prepara-se para o fim da vida, pois aposentou-se como arquivista de uma biblioteca (que ainda frequenta e reencontra outros colaboradores) e os livros que escreveu nunca lhes deram projeção e já não são lidos. Passeia em cemitérios pois encontra o silêncio e a paz que lhe permite refletir sobre sua trajetória de vida, aparentemente já sem propósitos relevantes. Alguns fatos relacionados ao contexto da sua comunidade operam transformações importantes: um vizinho que morre e deixa a viúva devastada pelo luto, uma manifestação de jovens a favor de povos originários em frente ao residencial e a diretora amarga que termina por confessar suas frustrações e profunda solidão, pelo afastamento da filha e perda do marido. Ele recebe semanalmente uma jovem com quem conversa e considera esse encontro um suporte importante para o seu bem-estar, sendo que a diretora fica incomodada com esse fato. Enfim, ambos se sentem atraídos para conviverem juntos e essa é a conclusão: ao descobrir que tem um neto de 8 meses, ela sente-se mais à vontade para aceitar o pedido dele para morarem juntos. Para ele, a chegada dessa criança traz o desejo de viver muito, especialmente pela perspectiva de ter com quem conversar.

Relacionamentos perduram quando há objetivos e necessidades atendidas. Não importa se em moradias institucionais ou imóveis isolados, em qualquer contexto a convivência desejada é o principal ingrediente para a felicidade.

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