Por que a presença familiar é tão importante na velhice, mesmo quando o parente idoso tem demência?

A convivência familiar é fundamental para a saúde mental de pessoas de todas as idades. Por mais que adolescentes almejem a liberdade de não darem satisfações aos responsáveis, na juventude percebem que os limites impostos eram necessários para segurança pessoal e patrimonial, mas principalmente para a emocional. À medida que a idade avança, os vínculos consolidados comprovam que o apoio oferecido na convivência sadia entre parentes e amigos garantem estabilidade para seguir uma vida efetivamente produtiva. O filme Ainda Estou Aqui (Brasil, 2024) oferece uma história de vida que, apesar de trágica, demonstra o quanto uma família unida permite que os fatos vividos não se apaguem, mesmo com grande perda cognitiva (https://www.adorocinema.com/filmes/filme-265940/).

Ainda Estou Aqui é uma adaptação cinematográfica do livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, que narra a emocionante trajetória de sua mãe, Eunice Paiva, durante a ditadura militar no Brasil. Ambientada em 1970, a história retrata como a vida de uma mulher comum, casada com um importante político, muda drasticamente após o desaparecimento de seu marido, capturado pelo regime militar. 

A família composta por casal e 5 filhos vivem no Rio de Janeiro e o filme demonstra, no início, uma convivência tranquila deles com amigos, apesar do ambiente político tenso sob regime militar. 

Engenheiro e ex-deputado, Rubens Paiva foi sequestrado por militares, acusado de conspiração contra o governo e desapareceu. Sem vestígios e provas de seu paradeiro, Eunice passou a cuidar da família sozinha. (…) … tão terrível quanto a violência física é a consequência para as famílias e a obra se aprofunda na crueldade de precisar continuar vivendo sem saber o que aconteceu. 

O desaparecimento do marido e as pressões sofridas fragilizam a estabilidade de Eunice, que procura manter a união dos filhos para que continuem a vida apesar da falta de notícias. De modo a alcançar o direito de obter o atestado de óbito de Rubens Paiva, Eunice entrou no curso de Direito com 48 anos e destacou-se como importante figura no cenário dos ativistas pelos direitos humanos no Brasil. 

No caminho para o desfecho, a trama tem dois saltos temporais de mais ou menos duas décadas que apresentam rapidamente a família naqueles períodos e passam muito brevemente pela atuação profissional de Eunice e pela vida dos filhos já adultos. 

A cena final apresenta Eunice com demência avançada, mas junto dos filhos, que a observam. Ao assistir um vídeo onde a história do marido é contada, ela demonstra atenção, ainda estando ali, entre os seus. É emocionante perceber que o filho, autor da biografia de Eunice e sua luta, capta esse momento tão significativo, depois coroado por uma foto de todos sorrindo, tal como ela mesma sempre desejou. A presença da família é o lastro que mantem o respeito entre pessoas que se amam: assistir ao filme é um tributo ao amor e à admiração pelos que se mantêm unidos apesar das dificuldades.

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