Envelhecer entre amigos: A Revolução do Cohousing

E se morássemos próximos em um lugar com casas individuais?
E se, nesse lugar, também houvesse amigos com ideias semelhantes?
E se as pessoas que vivessem lá fossem responsáveis pela gestão e pelas decisões?
E se houvesse uma casa central onde pudéssemos passar tempo juntos?
E se pudéssemos fazer algumas refeições juntos? Isso lhe parece interessante?¹

Em algumas palavras, Pat Hundhausen, uma professora aposentada que repensava onde morar no futuro, propôs um anseio presente em muitos de nós, por mais conexão social e suporte para o envelhecimento. Atraída por um modelo dinamarquês de uma nova forma de morar, ela imaginou construir uma comunidade onde as pessoas pudessem envelhecer no local com o apoio entre os moradores.

Ela não citou o nome “cohousing”, pois era pouco conhecido, e três anos mais tarde surgia a Quimper Village (ao lado), nos EUA, um sênior cohousing. (Crédito Imagem: American Society on Aging)

Origens do cohousing
O cohousing, que teve como berço a Dinamarca, surgiu com essa proposta: buscar alternativas para o morar. Inicialmente concebido como um modelo intergeracional, evoluiu posteriormente para o sênior cohousing, ambos voltados a solucionar necessidades relacionadas à rede de apoio que esse modelo oferece.

Mas afinal, o que é cohousing?
Trata-se de uma espécie de vila onde as pessoas vivem em casas privadas, mas compartilham espaços comuns distribuídos em uma “Casa Mãe”. Essa Casa Comum comporta áreas estabelecidas conforme a necessidade do grupo de moradores, podendo ser uma lavanderia, uma cozinha, sala de TV, biblioteca, um coworking, entre outros.

As casas individuais, que inicialmente possuíam uma metragem maior, foram diminuindo ao longo do tempo, cedendo espaço às área compartilhadas no decorrer de sua evolução. Essa mudança foi fruto da percepção dos moradores de que momentos compartilhados eram muito mais prazerosos do que permanecer isolados dentro de suas próprias casas.

A colaboração e envolvimento ativo de todos os moradores com suas vivências e experiências (por isso se denomina um modelo intencional) é um dos pilares fundamentais do cohousing. Esse compromisso coletivo não apenas promove uma gestão compartilhada do cohousing, mas também mantém os moradores engajados e ativos, criando um ambiente onde o aprendizado mútuo e a troca constante fortalecem as relações interpessoais.

As responsabilidades, que são distribuídas de maneira democrática, englobam desde a organização de atividades comunitárias até a administração dos espaços compartilhados, como a manutenção da Casa Comum ou o planejamento de eventos. (Crédito Imagem: site Färdknappen, cohousing sueco)

Esse modelo favorece a construção de um senso de pertencimento e propósito. Além disso, ao assumirem papéis ativos dentro da comunidade, os moradores desenvolvem habilidades, exercitam a autonomia e criam uma rede de suporte que torna o viver coletivo mais resiliente e harmonioso.

Evolução do cohousing: inclusão e diversidade
A evolução que o cohousing vem demonstrando reflete sua capacidade de se adaptar às demandas de uma sociedade cada vez mais diversa e plural. Mais do que um modelo habitacional, ele se tornou um espaço de inovação social, promovendo inclusão e pertencimento para diferentes grupos.

Hoje, modalidades que vão além do intergeracional ou sênior cohousing tradicional já estão ganhando destaque. O New Ground, no Reino Unido, é um exemplo pioneiro, sendo voltado exclusivamente para mulheres com mais de 50 anos. Já o Regnbågen, em Estocolmo, atende à comunidade LGBTQIA+, criando um ambiente que valoriza identidade e apoio mútuo.

O efeito “Vila” do cohousing
Esses projetos mostram como o cohousing está revolucionando os formatos de moradia para o envelhecimento, oferecendo mais do que um lugar para morar. Eles representam um futuro em que a colaboração, a inclusão e a personalização são centrais, provando que o conceito de lar pode, e deve, acompanhar a evolução das necessidades humanas.

Esse fenômeno “vila”, que pode ser denominado de Capital Social, é descrito por Susan Pinker em seu livro The Village Effect. Mais do que uma defesa das conexões humanas, é um chamado à ação para repensarmos a forma como vivemos e interagimos. Onde o lugar está intimamente relacionado com a saúde, sendo reflexo da reciprocidade, confiança e participação instalada nessas “vilas” onde as relações sociais acontecem e são a base do bem-estar coletivo.

O modelo de cohousing, nesse contexto, surge como uma resposta prática e inovadora aos desafios contemporâneos. Ele transforma o conceito de “vila” em algo tangível, mesclando arquitetura, urbanismo e propósito social para promover um ambiente onde a vida coletiva é enriquecedora, sem abrir mão da individualidade.

Mais do que um lugar para morar, um modo de viver
A citação de Kathrine Switzer presente no livro de Durret e Levitt (2020) traduz muito bem esse movimento “A vida é feita para ser vivida, não apenas observada”, e você estar no controle de quanta participação e quanta solidão quer ter, pode ser a resposta que buscamos para essa longevidade conectada, com independência, privilegiando as conexões sociais, e ao mesmo tempo respeitando sua privacidade.

Como solução em um mundo cada vez mais digital e isolado, o cohousing resgata o poder das interações presenciais, oferecendo não apenas um lugar para morar, mas um modo de viver. Ele demonstra que, quando projetamos espaços que priorizam as pessoas e suas relações, não estamos apenas construindo casas — estamos cultivando comunidades. E, como Pinker bem aponta em seu livro, essas comunidades podem ser a chave para uma vida mais longa, mais saudável e mais feliz. Afinal, no final do dia, são os laços que construímos – com a família de origem ou com a família que escolhemos ao longo da vida, como amigos que se tornam parte de nós – que verdadeiramente nos sustentam.

É nesse afeto compartilhado que encontramos abrigo, cumplicidade e a certeza de que a jornada da vida é mais leve quando caminhamos juntos.

Referências

¹ State-Of-The Art Cohousing: Lessons Learned from Quimper Village
DURRET, C.; LEVITT, Alexandria. State-Of-The-Art Cohousing: Lessons Learned from Quimper Village. Kindle Direct Publishing. Nevada City, CA, USA, 2020.

PINKER, Susan. The village effect: How face-to-face contact can make us healthier and happier. Vintage Canada, 2015.

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