O envelhecimento nos oportuniza a melhor aproveitar o tempo que fluí, talvez de forma mais célere, com melhores alternativas que melhoram nossa experiência de vida. No entanto, é uma fase cheia de desafios e uma delas é a maior propensão para cair. Ao procurar uma melhor singularidade para o termo “quedas”, deparei-me com o conceito da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia: queda “é o deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial, sem que ocorra possibilidade de correção postural em tempo hábil, e que é determinada por circunstâncias multifatoriais, com comprometimento do equilíbrio e estabilidade” (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.; Pereira SRM et al. Quedas em Idosos. In: Associação Médica Brasileira, Conselho Federal de Medicina. Projeto diretrizes. São Paulo: AMBC; 2002. p. 405-14).
Para ilustrar a importância do tema, calcula-se que a incidência de quedas em pessoas idosas na comunidade seja de 28% a 35% a partir dos 65 anos e de 42% a partir dos 75 anos; e até 50% das pessoas idosas residentes e/ou institucionalizadas caem anualmente (Moreira VG, Drummond FMM. Quedas. In: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia; Cunha UGV, Cabrera M, organizadores. PROGER Programa de Atualização em Geriatria e Gerontologia: Ciclo 4. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2018.p.111-51. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v.1)
Idade é o único fator interveniente para quedas?
Com certeza não, embora o de maior importância, desde que combinado com outras situações tais como deficiências sensoriais (diminuição da acuidade visual e da audição), múltiplas doenças que comprometem as atividades operativas da vida diária, principalmente a independência (um de seus domínios é a mobilidade, a marcha, a capacidade de realizar transferências de um lugar a outro, o balanço e o equilíbrio), uso de múltiplas medicações; e déficits cognitivos. Todos estes fatores são ditos intrínsecos, ou seja, são características de cada pessoa idosa.
Os fatores extrínsecos são aqueles relacionados às barreiras físicas dos ambientes que as pessoas idosas compartilham e convivem, seja a própria residência, o espaço público (ruas, praças, shoppings, estações de metrô), ou os residenciais ou instituições de longa permanência nos quais a pessoa escolheu para viver. A baixa iluminação, o design inadequado dos ambientes com diferenças de níveis e excesso de escadas; tapetes e pisos lisos e derrapantes, calçadas irregulares, falta de dispositivos de proteção em passagens elevadas como corrimão e guarda corpo, são exemplos de condições propensas a quedas.
Onde e quando caímos com mais frequência?
É na própria residência que caímos mais vezes, e 20% dos casos ocorrem no período noturno. O banheiro é campeão no ranking de locais preferidos para se cair em casa. Justifica-se por ser ambiente úmido, com piso mais escorregadio.
Muitas vezes caímos e não sabemos por que caímos, até porque não é ato intencional. Cair perto de alguém facilita as coisas porque o evento tem uma testemunha que pode explicar os motivos do tombo. À moda de um detetive astuto deve-se inquerir e investigar as condições prévias de saúde do caidor, se faz uso de medicações do tipo que se usa para dormir ou psiquiátricas (benzodiazepínicos, antidepressivos, anticolinérgicos), ou ainda se faz uso de medicação anti-convulsivante, hipoglicemiante, anti-hipertensiva ou antiarrítmica; e se faz uso de vários medicamentos que podem interagir entre si e ter como efeito colateral perda de equilíbrio (polifarmácia).

O caidor estava usando os óculos de grau? Estava descalço ou com calçado de sola já gasta? Caiu descendo ou subindo escada? Escorregou ou engachou o calçado no tapete? O piso estava recém encerado? Tropeçou em desnível do próprio piso? Deixou de acender a luz, estava deambulando no escuro? (fato muito comum ao se acordar à noite para ir ao banheiro).
Cair mais de uma vez ao ano predispõe a maior morbidade e mortalidade, e as consequências para a saúde e funcionalidade do indivíduo são inúmeras, desde a limitação do ir e vir por lesões biomecânicas (fraturas por exemplo), até maiores tempos de recuperação e reabilitação motora funcional, demandando hospitalizações e institucionalizações onerosas. As quedas vêm se constituindo problema e desafio de saúde pública, para gestores de saúde e toda a comunidade à volta da pessoa idosa.
Para você, qual seria a melhor estratégia para a prevenção de quedas entre pessoas idosas? O que você faria para diminuir o seu risco de cair? Nesta aldeia global onde a distância se desfaz em simples toque do celular, a informação deve ser disseminada e compartilhada, de forma mais capilarizada, para conscientizar e educar idosos, cuidadores, e familiares em relação às causas e consequências das quedas; e de como medidas simples podem adaptar, modificar e melhorar os ambientes e as condições de saúde das pessoas idosas. Prevenir é ato de amor. Prevenir é viver mais com melhor qualidade de vida no lugar que escolhermos para viver. O assunto não para por aqui, e nos próximos textos abordaremos aspectos mais específicos da prevenção das quedas, principalmente na população geriátrica. Até lá e muito obrigado. Cuidem-se.


