É evidente o aumento da longevidade, a partir de mudanças nos hábitos alimentares e de atividade física, além da evolução da medicina com a visão preventiva da saúde. Apesar de circunstâncias tais como catástrofes causadas por mudanças climáticas, a pandemia pela Covid-19 e os efeitos socioeconômicos de conflitos mundiais, morar com dignidade sempre foi (e sempre será…) a meta de quaisquer pessoas em saúde mental plena. Porém, o aumento da população e a crise econômica mundial têm dificultado o acesso a soluções adequadas, em especial para pessoas idosas que, muitas vezes, não têm suporte social.
Alternativas para todos os bolsos
Já é evidente a necessidade de alternativas de moradia que possibilitem a escolha entre diferentes propostas de serviços, sejam eles os básicos ou os mais sofisticados. Mesmo para o público pagante existem ainda poucas opções no Brasil, embora o mercado já apresente novos empreendimentos e, melhor ainda, com a atenção necessária para projetos qualificados para um atendimento centrado na pessoa. O engenheiro Norton Mello, profissional que estuda o tema com profundidade, participa de equipes qualificadas para projetos de Sênior Living inovadores e de alta qualidade.
As instituições de longa permanência para pessoas idosas – ILPI – podem ser soluções para aquelas em vulnerabilidade econômica, visto serem organizações historicamente criadas para atender os desvalidos através da filantropia. Definidos parâmetros de funcionamento através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – em 2005, determinou-se a exigência de melhores condições para esses equipamentos de assistência social, ampliando para organizações públicas e privadas que têm surgido a partir do aumento da procura por alternativas de moradia. Nesse caso, é possível encontrar soluções mais acessíveis, embora nem sempre viáveis para muitos, fato que alcança outros países também.
De acordo com a jornalista Chloe Berger, nos Estados Unidos a geração dos chamados Baby Boomers (nascidos entre 1945 e 1964) está “envelhecendo em um sistema que não está disposto ou equipado para cuidar deles”. A jornalista afirma que, em 2021, cerca de 1/3 de americanos idosos estavam gastando mais de 30% de sua renda em habitação. Aponta a falta de atualização dos residenciais para pessoas idosas, especialmente na infraestrutura e equipamentos, apesar da evolução tecnológica que agrega produtos inovadores aos processos de cuidado.
Permanecer na própria casa
A dificuldade em encontrar soluções de moradia acessíveis compromete a busca por cuidado profissional e obriga à permanência na própria casa, mesmo quando não há recursos para manutenção adequada e, muito menos, para atualização de sistemas para incorporação de novas tecnologias. Quando não há o suporte familiar, essa situação torna-se ainda mais grave, pois é necessária uma equipe de cuidadores profissionais, tanto maior quanto mais complexa a fragilidade.
Além de haver menos opções de residenciais em preços acessíveis, visto serem empreendimentos com altos custos, há ainda a dificuldade na retenção de pessoal especializado em cuidados de longa duração, o que torna o problema ainda mais grave quando se trata da oferta de moradia digna. Propostas inovadoras têm adotado soluções tecnológicas que racionalizem o serviço, tornando-o mais ágil, seguro e eficiente.
O cohousing sênior é uma proposta que permite a privacidade da própria casa, mas com o compartilhamento de atividades e decisões, o que alivia a solidão e racionaliza custos. Ainda não há esse modelo de moradia em funcionamento no Brasil, embora haja grupos nesse movimento. A arquiteta Rosângela Rachid estuda profundamente modos de criar os grupos, organizar o desenvolvimento de empreendimentos e de projetos para implantação e as condições que qualificam essas comunidades intencionais. Pela característica de sustentabilidade que diferencia esse modelo de moradia, sugere que pode ser proposto como política pública, ampliando as soluções a serem adotadas pelos administradores municipais.
Perspectivas para o futuro
Ao refletirmos sobre os principais motivos que tornam difíceis as decisões sobre como morar na velhice, percebemos que as opções são restritas, o que confirma que é necessário organizar a vida financeira com antecedência, tema que já abordei em outro post. Planos de saúde privados a preços abusivos, atendimento SUS muito bom, mas com enorme dificuldade de agendamento e medicamentos a preços muitas vezes inviáveis, tornam o orçamento pessoal limitado para outros gastos. Morar com dignidade tem a ver com salubridade, mas também com pertencimento, e isso pode garantir que a solidão também não seja fator de sofrimento.

No filme Nomadland (EUA, 2020), baseado no livro homônimo, o personagem fala do dia que ficou sem aposentadoria e sem casa, resolvendo adquirir um motorhome, ou trailer motorizado, passando a viver em estacionamentos como um nômade. A jornalista americana Jessica Bruder, autora do livro, descreve que, após a recessão de 2008 nos Estados Unidos, ocorre um fenômeno que caracteriza um novo estilo de vida nômade, onde a busca por empregos temporários agrupa pessoas idosas em autocaravanas.
Além dessa história, já conversei com um motorista de táxi que morava no próprio carro, sendo que o porta-malas era seu guarda-roupas, fazia academia todas as manhãs para tomar banho e lavava a roupa suja em lavanderias de autosserviço. Refeições eram feitas onde estivesse e dormia no carro estacionado em postos de combustível com locais seguros. Enfim, dizia estar feliz com a solução e aliviado por não ter despesas com moradia.
Já é hora de acelerar o processo de aprovação da hipoteca reversa, quando é possível monetizar a própria casa sem sair dela para poder mantê-la atualizada. Também importante pensar em soluções coletivas de qualidade, inclusive considerando a oferta para a classe B, que fica no limbo entre soluções muito caras e as filantrópicas. Empreendedores nesta área devem manterem-se atualizados sobre novos processos e equipamentos, sem deixar de investir no pessoal de atendimento, o que pode reter bons profissionais e incentivar a formação de novos, nesta profissão ainda tão carente de reconhecimento.
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