Como um bom projeto arquitetônico para residencial sênior pode ser adequado a pessoas idosas e economicamente viável?

Com o aumento da longevidade e a queda da natalidade, a população idosa passou a demandar serviços de cuidado especializados, que vão desde a contratação de profissionais para atendimento no domicílio até à mudança para uma instituição de longa permanência para pessoas idosos – ILPI. Nela o morador receberá cuidados integrais, sendo cuidado sejam quais forem suas necessidades de saúde física, emocional e social. As opções desse tipo no Brasil apresentam um gap incômodo para famílias que buscam por essa solução, especialmente quando decidem consensualmente com a pessoa idosa, mas nem sempre têm condição financeira para escolher. Quando não é possível pagar ou o suporte social é escasso, há muitas opções filantrópicas, geralmente sem vagas disponíveis e submetendo a uma fila de espera que compromete a decisão. Há, também, equipamentos públicos, igualmente com restrição de acesso pela falta de vagas. Assim, são buscadas opções no mercado privado que, para ofertas de boa qualidade nos serviços, faz investimentos na equipe, nos insumos necessários e no ambiente construído, o que determina preços compatíveis ao custo que podem se tornar impeditivos para muitos.

Nessa perspectiva, aumenta o interesse por empreender nesse tipo de atendimento, sendo frequente a afirmação de que construir para oferecer um atendimento adequado envolve um investimento muito alto e parece preferível uma reforma simples em um imóvel existente. Tal decisão pode até funcionar por um tempo, mas talvez o custo da adaptação seja alto a médio prazo e demonstre que um modelo de negócio pode garantir mais sucesso se pensado a longo prazo. Assim, o projeto que envolva a montagem de um residencial sênior conta com soluções de arquitetura adequadas à moradia de pessoas idosas em diferentes condições de saúde, incluindo a possibilidade de acompanhar novas demandas através de projetos flexíveis e escaláveis.

A importância de um bom projeto arquitetônico

Ao falar de arquitetura para a longevidade, é preciso deixar clara a importância do conhecimento técnico sobre envelhecimento. É imprescindível obter conhecimento básico sobre Gerontologia Ambiental, ciência que vem sendo estudada desde a década de 1970 e iniciada a partir da Psicologia Ambiental. Desenvolvida através dos estudos do americano Mortimer Powell Lawton, somente compreendendo suas características é que efetivamente se consegue projetar equipamentos adequados. Ainda há poucos especialistas no Brasil, mas minhas pesquisas na área de Gerontologia na Universidade de São Paulo têm oferecido esse conhecimento, para que profissionais sérios e comprometidos com o tema produzam soluções com qualidade.

Não basta estabelecer espaços para cadeiras de rodas, banheiros acessíveis e corredores largos. Apesar de serem importantes para a acessibilidade, é preciso considerar as mudanças de comportamento ao longo da vida, estabelecendo características de espaços não só acessíveis, mas adequados para facilitar interações sociais e que sejam aprazíveis para diferentes estilos de vida adotados no preenchimento do tempo livre. As lembranças significativas permanecem e devem estar disponíveis para o prazer, garantindo que os encontros positivos sejam estimulados para garantir o envelhecimento ativo, mesmo quando haja restrições. Focar mais nos ganhos e menos nas consequências do declínio natural implica em desenvolver um projeto arquitetônico que produz espaços adequados e voltados para a autonomia e o pertencimento de moradores idosos.

Quais aspectos são diferenciais para que residenciais destinados à moradia sênior sejam economicamente viáveis, tornando-os empreendimentos sustentáveis? Quando se fala em economia “prateada”, “grisalha” ou “longeva”, basicamente são colocados os negócios que atendam às demandas de pessoas idosas, mas também é preciso considerar a atuação desses usuários, para os quais os produtos são direcionados e criados, para que haja bom desempenho ao coloca-los no foco das decisões. Além disso, a racionalização de recursos permite o consumo consciente de energia, água e insumos, reduzindo perdas e conservando o ambiente para evitar desgastes desnecessários. Reuso de águas servidas para descarga de esgoto cloacal, placas fotovoltaicas para captação de energia solar, reservatório de águas pluviais para manutenção de áreas externas, composteira para resíduos orgânicos e sistemas inteligentes para controle do consumo elétrico, são algumas das decisões a serem tomadas no projeto do edifício. Também o controle da insolação e o aproveitamento da ventilação natural contribuem para o conforto ambiental, além da escolha de materiais de revestimento adequados para cada ambiente e tipo de permanência.

A escolha do sistema construtivo

Um bom projeto arquitetônico torna a construção controlada e previsível. Além das decisões que definem a funcionalidade dos espaços, também a definição técnica de sistema estrutural e construtivo já considera a racionalidade ao aproximar áreas molhadas e coincidir paredes. Para isso, a adoção da modularidade no desenho dos espaços é condição fundamental para o desenvolvimento de todas as áreas, sendo que o ambiente que mais se repete define o módulo a ser adotado: nesse caso, o apartamento. Além do espaço em si, essa decisão permite uma racionalização de mobiliário, investimento que não pode ser relegado a segundo plano pois deve ser durável e resistente antes de ser bonito. A praticidade dos móveis agiliza o serviço, tanto na manutenção quanto na flexibilização dos arranjos, pois eventualmente há trocas necessárias, o que impacta no movimento e na armazenagem das peças.

Há experiências que adotam a construção industrializada, “… integrando design modular, industrialização avançada e gestão tecnológica”, de acordo com a Árgola Arquitectos e o Grupo Redislogar (https://www.geriatricarea.com/2025/06/30/smart-residence-un-innovador-modelo-de-residencias-basado-en-la-construccion-industrializada/). Chamada de “Residência Inteligente”, essa solução propõe um modelo inovador combinando “modularidade escalável, industrialização eficiente e gestão orientada por dados”, o que proporciona “eficiência construtiva, otimizando prazos com resultados da mais alta qualidade”. O sistema construtivo industrializado utiliza componentes estruturais que são fabricados e depois transportados para o local do futuro edifício, onde é feita a montagem. O sistema permite a criação de unidades componíveis, partindo de quartos individuais até espaços habitacionais compostos, incluindo a possibilidade de estender em pequenos terraços. Os criadores afirmam que as principais vantagens da construção industrializada envolvem o controle do processo para garantir qualidade e entrega no prazo, além de possibilitar a redução do preço final.

Para aqueles que procuram um bom residencial sênior, observar a qualidade do edifício permite antever seu funcionamento e a agilidade do serviço, já que os gestores terão boa visão de conjunto para o comportamento da equipe. Para aqueles que empreendem na área, valem as considerações de viabilização do negócio, vistas as decisões que tornam o investimento sustentável a partir da construção. Convido o leitor a que reflita sobre a importância de um bom projeto e da contratação de profissionais que estudam e se especializam nesse tema.

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