As reflexões publicadas neste blog sermodular.com.br têm focado as alternativas de moradia, desde os aspectos físicos até os concernentes às relações entre os sujeitos envolvidos, familiares ou não. A legislação brasileira determina que os idosos sejam amparados pela família e a responsabiliza nesse sentido, assumindo somente quando os vínculos estejam comprovadamente rompidos por violência ou abandono. A decisão sobre o cuidado do idoso vulnerável deveria ser tomada em conjunto com ele, certamente quando há capacidade cognitiva para tanto, mas infelizmente ainda é recorrente a ideia de que a fragilidade na velhice retira a capacidade de decisão.
Sendo assim, e por diversas razões, há a preferência por manter o idoso em casa, o que tradicionalmente era feito através de revezamento entre os familiares. Com a diminuição da natalidade e a facilidade em buscar oportunidades de formação profissional e emprego em outras cidades, a disponibilidade diminui progressivamente, levando à opção por moradias institucionais ou pela contratação de cuidadores profissionais. A jornalista Marta Fontenele defende o aconselhamento familiar quando o idoso rejeita o suporte de um cuidador profissional, em post publicado no Facebook em 16/09/2018.
Temos falado da necessidade do cuidador familiar em dividir o cuidado com demais membros da família e, quando necessário, contratar cuidadores profissionais para aliviar a sobrecarga das longas jornadas de cuidado. Porém, há situações em que o idoso rejeita a presença do cuidador profissional em domicílio, alegando dentre outros motivos, a perda de privacidade.
Além desse motivo, a presença de um profissional no ambiente familiar cria uma nova dependência, a de manter provisões para mais uma pessoa e, portanto, haverá um aumento de despesa além da remuneração desse profissional. Também há o risco de ausências e atrasos, criando outras dificuldades para atender compromissos pessoais ou profissionais dos familiares. Nesses casos, a frustração pode gerar conflitos e a sensação de o idoso ser um “fardo”.
Neste contexto, o cuidador familiar tende a contabilizar mais perdas, seja de tempo livre para o autocuidado, para a gestão da vida familiar e civil de ambos (cuidador e pessoa assistida) e os relatos de culpa se misturam a outro tipo de estresse que vem do autojulgamento quanto à ingratidão, à ausência de cumplicidade, fidelidade ou lealdade.
A qualidade de vida do cuidador e de seu assistido, que repercute diretamente no bem-estar de ambos, deve ser o foco das decisões. Pesar “prós e contras” de manter-se em casa, independente de quais cuidadores, é um ponto obrigatório para quem deseja o melhor para seu parente idoso, buscando o consenso de todos para viver uma vida sem culpas e reduzindo o medo de comprometer seu próprio envelhecimento.
É triste mas em um determinado momento a capacidade de decisāo realmente desaparece. Mas quando será? That’s the question, diria Sheakspeare !
CurtirCurtir