Poucos pensam sobre sua própria funcionalidade na velhice, o que leva a maioria a viver em imóveis que nem sempre atenderão plenamente às necessidades de cada um. Sem observar portas muito estreitas, banheiros apertados, uso excessivo de móveis e desníveis significativos, pessoas em condição física e cognitiva plena não imaginam um futuro limitado. É possível mudar quando surgem as dificuldades, mas nem sempre isso será viável financeiramente.
No filme Ruth & Alex (EUA, 2014), Diane Keaton e Morgan Freeman interpretam um casal que deseja mudar do apartamento onde vivem, enfrentando escadas e declínio funcional depois de 40 anos. O motivo que dispara essa decisão acaba não sendo o principal tema abordado, mas claramente aponta para a questão central deste ensaio.
De acordo com o sociólogo Bernardo Sorj, que publicou Em que Mundo Vivemos? (São Paulo: Edições Plataforma Democrática, 2020), hoje somos altamente influenciados pelas redes sociais.
O indivíduo na sociedade contemporânea é um ser que navega entre a heteronomia — a conduta e os desejos orientados pela vontade e pelas expectativas dos outros — e a autonomia — a capacidade de decidir livremente baseado na reflexão e em seus próprios juízos de valor. A oposição entre ambos só aparece quando a imposição externa é óbvia, mas na sociedade moderna a heteronomia age pela indução, em geral inconsciente, seja pela publicidade, seja pela inveja de querer viver os “momentos de felicidade” postados pelos “amigos” nas redes sociais, que leva a querer comprar mais objetos e a ter “experiências” que exigem um cartão de crédito ou a abrir mão da reflexão se fechando nas bolhas produzidas pelas fake news. O grande desafio do sistema educacional é fortalecer a capacidade de agir de forma autônoma.
Somos influenciados pelos estímulos das redes sociais, das propagandas em diversas mídias e dos programas de televisão, sejam filmes ou novelas. Também estão em alta as séries que apresentam reformas de ambientes, algumas no Brasil, mas muitas em países como Estados Unidos e Canadá, o que já deve ser um alerta para as diferenças de cultura e clima em cada contexto. Revestimentos adequados para alguns, assim como esquadrias e outras soluções de espaço, nem sempre atendem às necessidades de outros. Portanto, basear-se em modelos estrangeiros exige o cuidado de ponderar sobre a aplicabilidade em um clima tropical como o do Brasil, mesmo considerando as diferenças que existem de norte a sul neste país continental.
Ser induzido sobre características da casa ideal na velhice compromete as melhores soluções para cada caso, especialmente quando a segurança e o conforto são essenciais para uma velhice saudável. O papel dos profissionais que efetivamente estudam gerontologia ambiental é fundamental para atender essas demandas, através de projetos arquitetônicos adequados a cada caso.