A decisão sobre como morar na velhice torna-se ainda mais difícil para os cuidadores? 

Os ensaios em Ser Modular têm por objetivo trazer reflexões sobre a importância de pensar nas adequações necessárias para a moradia que atenda desejos e necessidades de pessoas idosas. A percepção de que há uma evolução nesse sentido, e que a mesma concepção de espaço na juventude pode não atender às mudanças físicas, sociais e psicológicas ao longo da vida, traz menor dificuldade para aceitar mudanças quando a fragilidade aumenta e o cuidado necessário é mais intensivo. Uma reportagem da BBC apresenta um caso bastante significativo no qual a moradia institucional foi a melhor opção (https://www.bbc.com/portuguese/articles/crgldx7rv4po). 

A necessidade de ajuda em atividades básicas do cotidiano, como tomar banho ou até mesmo trocar de roupa, faz parte da vida de cerca de 23% de idosos brasileiros, segundo o Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil) de 2018, um dos levantamentos mais recentes e completos sobre o tema.

Foi difícil para os filhos considerarem a mudança para uma instituição de longa permanência para idosos – ILPI, pelo apego natural da família que, unida, mantinha-se comprometida pelo companheirismo.

O preconceito e a visão negativa sobre esse tipo de instituição são bastante comuns, dizem especialistas em saúde de idosos. Mas esses profissionais frisam que esses lugares representam formas de um idoso receber atenção adequada e de maneira profissional. Falar sobre esses “asilos” ainda é um tabu. 

O desgaste de cuidadores informais no cuidado de seus parentes idosos nem sempre é percebido, pois não atinge somente perdas físicas, mas também sociais e financeiras, restringindo a independência e os objetivos de vida.

Um quarto dos familiares (25,8%) que precisam se tornar cuidadores deixam de trabalhar ou estudar para se dedicar em tempo integral ao idoso, segundo o estudo da ELSI-Brasil. Os especialistas pontuam que as instituições para idosos têm sido cada vez mais necessárias por conta das mudanças nas características das famílias.

O aumento da longevidade vem acompanhado de menos cuidadores informais e, portanto, a moradia institucional torna-se imprescindível. Mas nem todos conseguem vagas em locais acessíveis financeiramente ou podem pagar por cuidados adequados em locais preparados para essa dedicação.

A falta de políticas públicas relacionadas às instituições para idosos contrasta com o envelhecimento do país. O número de pessoas com mais 60 anos cresceu 56%, de 20,5 milhões no Censo de 2010 para 32,1 milhões no Censo de 2022. Esse grupo passou de 10,8% da população para 15,8% no mesmo período. 

A decisão sobre como morar na velhice torna-se ainda mais difícil para os cuidadores, pois há o sentimento de culpa pela sensação de abandonar seu ente querido em um lugar fora do seu controle. Mas a compreensão de que essa situação é melhor pela segurança, conforto e atenção ao parente idoso traz alívio e contribui para um envelhecimento mais bem-sucedido.

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