É evidente que a ocupação de residências unifamiliares muda ao longo do tempo. Um casal muitas vezes origina uma família com filhos, que nascem e crescem compartilhando a mesma casa até formarem novas famílias. Ainda há a possibilidade de outros parentes ocuparem outros dormitórios, ambientando os espaços de acordo com suas necessidades. As mudanças podem resultar em novos usos, mas muitas famílias mantêm a situação original considerando a ocupação eventual pelos antigos moradores.
No filme “Quando Você Viu seu Pai pela Última Vez” (Inglaterra, 2008), pai e filho têm um relacionamento complicado, devido ao temperamento dominador e ao caráter duvidoso do pai, Arthur. O filho Blake cresce observando os truques e mentiras que envolvem os relacionamentos familiares e afasta-se para viver seu casamento e a profissão, certamente diferente do pai, que o acusa o tempo todo de ter escolhido a carreira errada. Porém, Arthur descobre um câncer já em estado avançado e Blake retorna para a casa dos pais, a fim de acompanhar o processo terminal da doença. Ali começa sua reconciliação com o passado, a partir do momento que volta a ocupar seu antigo quarto e as lembranças de bons e maus momentos o invadem a cada diálogo, objeto ou situação que é revivida.
Claramente é possível perceber o quanto o ambiente construído é indutor das memórias, basta manter composições que remetam a situações vividas em família. Do mesmo modo, móveis e veículos antigos, mesmo obsoletos, trazem imagens de momentos em situações de encontro em família ou com amigos, embora nem sempre positivas. A manutenção de elementos do passado pode ser justificável, quer seja pelo uso eventual ou pelo simples desejo de guardar as lembranças nos arranjos originais. Também há a intenção de manter o clima dos momentos felizes, quando casais com filhos dependentes têm o controle da família e tomam as decisões sobre a vida do grupo. Nesse caso, ao voltar, mesmo que por situações transitórias, é impossível evitar rancores, mágoas e frustrações, sendo ingênuo pensar que somente as alegrias são relembradas.
Mas há vantagens, e repousam exatamente na motivação central do filme antes descrito: mesmo dolorosa, a reconciliação com o passado é um avanço positivo para um envelhecimento saudável, desde que se esclareçam os conflitos com base na tangibilidade dos lugares. É defensável acreditar que a passagem dos anos deva ser acompanhada pela evolução do lugar, onde a moradia caracteriza os desejos e as necessidades do grupo familiar, principalmente porque as mudanças são naturais e acompanham o progresso tecnológico, o crescimento cultural e as ambições pessoais. Voltar ao passado ao vivenciar antigos cenários trará à tona a profundidade das relações sociais, em especial as mais íntimas, e pode ser uma ameaça ou uma oportunidade: vivências assim devem ser aproveitadas para resgatar conflitos que ameacem a saúde emocional.
vou assisti-lo…….
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Ana, obrigada por prestigiar meus escritos… E há outros posts nos quais baseio algumas reflexões a partir de filmes para o cinema, a arte imita a vida! Abraços…
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Profa Maria Luisa amei o SERMODULAR….não deu tempo de ler tudo mas aos poucos eu chego lá…..quanto ao filme….assisti ontem ….gostei muito……a situação vivenciada lá é bem real na vida de tantas pessoas……adorei….PARABÉNS …….belas reflexões e aqueles que lerem com certeza embarcam na viagem reflexiva……….FELIZ ANO NOVO!
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