Oriento uma pesquisa para mestrado, sendo desenvolvido pela arq. Mariana Alves do Nascimento, já qualificada. Foca as relações sociais no espaço urbano a partir das suas transformações, visto que a dinâmica da cidade muda quando são inseridos novos elementos construídos, especialmente edifícios de grande porte que resultem na presença de pessoas estranhas ao lugar. Atividades com vizinhos, mesmo eventuais, criam um senso de pertencimento que mantem a familiaridade e a segurança dos moradores, elementos mais importantes quando há maior fragilidade pelo avanço da idade. Então, o que motiva pessoas idosas a caminharem nos espaços públicos?
O arquiteto Elvio Garabini, ao falar sobre a cidade onde mora, publicou em 12/04/2018 que “uma rua é muito mais que uma mera ligação de origem e destino” e destaca as magnólias que podem ser apreciadas na rua 15 de novembro, em Campo Grande-MS. Motivos para que a rua seja mais do que um espaço de passagem, mas também de deleite, a arborização torna a paisagem mais bonita, o clima mais ameno e o lugar repleto de significado, tornando-se importante para a memória daqueles que envelhecem apreciando os detalhes no entorno da moradia. O bairro é a extensão da unidade habitacional e, portanto, abriga moradores vizinhos que formam uma comunidade, servida por áreas de lazer, equipamentos de saúde e outros serviços, além de instalações comerciais. Ele pode atender muitas necessidades dos idosos, que se movimentam a partir desses objetivos e permanecem próximos de casa, tanto quanto possível, mas não são motivos suficientes para sair e caminhar nos espaços públicos.
Para Hugo Rossini, também arquiteto, o desejo é responsável pela mobilidade (https://www.viesarquitetonico.com.br/l/mobilidade-e-o-desejo-de-circulacao/):
Cada desejo que habita o interior de um indivíduo é uma força que impulsiona a algo desejado e gera uma mudança, causando a ação de inclinar-se e conduzir-se para algo ou alguém. Assim os conceitos de desejo e movimento estão entrelaçados, um determinando o outro.
Desejos e necessidades determinam as decisões de moradia, em especial na velhice, quando há experiências acumuladas e autonomia suficiente para decidir onde e como morar, além dos lugares desejados para frequentar. A rua é o locus da diversidade, onde os encontros produtivos podem criar ambiências acolhedoras e estimulantes. Os motivos podem ser desde as magnólias de Campo Grande até a expectativa de rever pessoas queridas, aquelas que representam a segurança que a familiaridade oferece. Os espaços públicos estão repletos de oportunidades, razão pela qual devem oferecer calçadas adequadas, mobiliário urbano suficiente e garantia da atenção do poder público, que olha seu cidadão de qualquer idade para que tenha qualidade de vida. Assim, caminhar nos espaços públicos possibilita o exercício do corpo e da alma, tanto mais positivo quanto mais trouxer felicidade, segurança e conforto para aqueles com mais tempo livre e direito a exercer sua cidadania.
Vivemos na cidade não só em nossa morada, o espaço público é nosso jardim. Tem sim que ser cuidado e atender nossas necessidades e anseios. Se a comunidade não ocupar o espaço público esse será ocupado pela marginália.
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Sem dúvida, Eduardo. Também é preciso considerar as oportunidades de novos vínculos a partir da convivência com vizinhos ou, até mesmo, com a população que flutua nos trajetos rotineiros, o que estimula a criatividade e o desejo de produzir e articular atividades. Obrigada pela opinião sempre muito pertinente!
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