Há algum tempo venho desenvolvendo reflexões sobre a quantidade de termos sendo utilizados para indicar moradias institucionais, tecnicamente chamadas de Instituições de Longa Permanência para Idosos – ILPI, termo formalmente definido para que houvesse parâmetros para o bom funcionamento. Além da quantidade de palavras, carrega o peso de ser uma “instituição”, o que as associa a outras que remetem a aprisionamento e controle, fixando a imagem das primeiras iniciativas para acolher idosos sem suporte social, os antigos asilos. As mudanças de comportamento da era contemporânea têm resultado em famílias menores, mais ocupadas e com menos condição financeira. Além disso, o aumento da longevidade tem atrasado a velhice dependente, especialmente considerando o crescente contingente de centenários que podem ser percebidos nas moradias institucionais. Portanto, as soluções de acomodação na velhice precisam se multiplicar, de modo a atender as diversas demandas provenientes de diferentes necessidades. Mas há uma indefinição de termos mais adequados para indicar uma moradia institucional, muitos recheados de preconceito e rejeição. Lar dos velhinhos e casa de repouso são os mais disseminados, resquícios dos antigos asilos.
A jornalista Eliane Brum escreveu na revista Época, em 2012 (http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/02/me-chamem-de-velha.html):
“Desde que a juventude virou não mais uma fase da vida, mas uma vida inteira, temos convivido com essas tentativas de tungar a velhice também no idioma. Vale tudo. Asilo virou casa de repouso, como se isso mudasse o significado do que é estar apartado do mundo. Velhice virou terceira idade e, a pior de todas, “melhor idade”. Tenho anunciado a amigos e familiares que, se alguém me disser, em um futuro não tão distante, que estou na “melhor idade”, vou romper meu pacto pessoal de não violência. O mesmo vale para o primeiro que ousar falar comigo no diminutivo, como se eu tivesse voltado a ser criança.”
Os asilos eram lugares de solidão e esquecimento, atendidos originalmente por freiras dedicadas à caridade. O isolamento representava retirar da convivência social aqueles que não tinham apoio de qualquer natureza, dando-lhes condição de sobrevivência digna. Passaram a ser relacionados a cuidados com a saúde, especialmente oferecendo conforto para compensar as perdas naturais do processo de envelhecimento. O termo mais usado então passou a ser “clínica geriátrica”, amenizado por “residencial geriátrico”. Geriatria é a especialidade da medicina que trata das doenças da velhice, daí a ênfase inadequada.
Moradia para idosos é um assunto que deve ser abordado de modo menos preconceituoso, sem criar rótulos ou colocar os velhos como inúteis e sem poder de decisão. Que pensemos nisso a tempo, para que nosso destino seja fruto do consenso com as pessoas que amamos sobre as decisões de onde morar.