É frequente encontrarmos casos de idosos que são levados a moradias institucionais por seus filhos sem que sejam consultados antes sobre isso. Evidentemente, quando há graus de dependência que exigem cuidados mais intensivos, se não houver a disponibilidade de familiares para esse acompanhamento, é uma solução que garante qualidade de vida por oferecer segurança e atendimento adequado. A permanência com a família será sempre preferível, mas nem sempre é a melhor opção, pois pode comprometer a autonomia e, em especial, a privacidade tão desejada por todos.
No filme “Do Jeito que Elas Querem” (EUA, 2018), quatro amigas de juventude personificadas por atrizes de primeira grandeza, personagens bem-sucedidas e com mais de 60 anos, reúnem-se semanalmente para discutir leituras comuns. Vivian, vivida por Jane Fonda, sugere o best-seller “Cinquenta Tons de Cinza” e provoca a reação das amigas, que consideram uma literatura sensacionalista, mas resolvem ler e passam a refletir sobre suas próprias relações amorosas. Cada uma tem sua história nesse sentido, mas é a de Diane, vivida por Diane Keaton, que inspira esta reflexão.
Viúva havia dois anos, mãe de duas filhas casadas e prestes a ser avó, foi convidada a mudar para a casa de uma delas em outro estado americano, pois preocupavam-se com o fato de ela correr riscos morando sozinha e porque, diziam, o pai era tão saudável e morrera repentinamente. Portanto, ofereciam cuidados e a queriam próxima, chegando a reformar o porão colocando barras de apoio e outros dispositivos para a desejável manutenção da segurança. Mas ela conhece um homem em uma das suas viagens para a casa da filha e, envolvida com ele (Andy Garcia), teme que critiquem e resolve passar algum tempo juntos, mentindo para as filhas. Seu sumiço as deixa em pânico e colocam a polícia no seu encalço, descobrindo assim o paradeiro da mãe e “resgatando-a” do parceiro. Seu medo de assumir um relacionamento a faz decidir mudar para a nova casa no porão mas, ao chegar lá, percebe que precisa impor seu desejo, o que é respeitado pela duas filhas, que certamente a amam.
Os filhos procuram o que consideram a melhor solução para garantir uma velhice segura, mas geralmente desconsideram que relacionamentos anteriores não são suficientes para preencher o universo amoroso de qualquer pessoa saudável. A necessidade de afetos abrange mais do que aqueles oferecidos pela família, tão necessários, mas que não suprem a emoção do desejo e dos prazeres que são mantidos, mesmo que com intensidades diferentes desde a fase da juventude. Paixões são mais do que desejos físicos e envolvem o compartilhamento de emoções íntimas, desde as alegrias até os temores inerentes à existência humana, tanto maiores quanto mais se vive. Enfrentá-los é o primeiro passo para saber decidir sobre como desejamos morar na velhice.
Sendo adulto e lucido ninguém pode decidir nada por outrem, seja qual for sua idade. Velho não é criança nem incapaz !
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Além disso, manter o controle da vida a prolonga com saúde mental… mas geralmente os filhos tomam essas atitudes por excesso de zelo, é preciso manter o diálogo, sempre!
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