Como professora no Bacharelado em Gerontologia da Universidade de São Paulo, e sendo arquiteta com experiência em projeto, há muito venho buscando elementos que configurem uma diretriz para responder a essa questão. Manifesto frequentemente que encontro iniciativas para o aperfeiçoamento das moradias institucionais, tanto no Brasil como em outros países, mas os modelos existentes ainda não me satisfazem. Talvez fosse possível começar uma proposta genuinamente inovadora se houvesse uma fusão das muitas boas ideias que hoje se apresentam fragmentadas em empreendimentos diversos. Certamente há demandas diferentes quando as soluções são oferecidas a grupos organizados por características culturais, sociais e econômicas, mas o que ainda se mantém recorrente é o preconceito quanto a morar em empreendimentos coletivos, associados a abandono e tristeza.
Atualmente participo da equipe de professores incumbida de qualificar a designer Marília Ceccon, doutoranda no Programa de Pós-Graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tenho sempre muito prazer em viver experiências assim, pois o aprendizado é sempre muito instrutivo a todos os envolvidos e, neste caso, a fundamentação teórica apresentada para a tese traz novas perspectivas para estas reflexões que tanto instigam minhas iniciativas de pesquisa. Sua visão como designer oferece um recorte significativo: busca compreender o quanto os objetos e os espaços que compõem o ambiente doméstico oferecem suporte à memória afetiva de pessoas com Doença de Alzheimer. A constatação de que cresce o número de idosos com essa patologia está relacionada ao aumento da longevidade e ao aprofundamento da pesquisa sobre demências, antes apenas vistas como simples consequências da velhice. Já sabemos que não é assim, e a procura por cuidados especializados torna ainda mais importante estabelecer quais elementos podem ser coadjuvantes ao bem-estar dos idosos e de seus cuidadores.
Sabe-se que é recorrente, entre novos empreendedores de residenciais especializados, a pretensão de receber somente idosos com autonomia ou com pouca dependência, desconsiderando o fato de que o declínio cognitivo pode acontecer em pouco tempo, além do surgimento de outras fragilidades. Condomínios direcionados a esse segmento etário igualmente desconsideram o cuidado direto, oferecendo acompanhamento preventivo e atendimento emergencial em eventos inesperados, porém dependendo de pagamento suplementar por esses serviços. Atende parte desse público que anseia por moradias adequadas, já que os valores flutuantes podem inviabilizar a manutenção desse sistema residencial. Estudos minuciosos sobre a relação do homem com seus objetos resultará em modelos que se reciclem constantemente com a tecnologia, mas jamais deixem de lado a humanização, requisito fundamental no morar com conforto e segurança.
Não tenho dúvidas professora, do quanto a arquitetura e o design podem trazer para o conforto e a segurança de pessoas com esta patologia. Li a respeito que o contato destes pacientes com objetos, ambientes e temas de sua época auxiliam muito na manutenção da memória cognitiva 👍🏻. Parabéns pelo tópico.
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Cesar, agradeço pela participação… como mencionei, há muito a se discutir sobre inovações possíveis em residenciais para idosos e estou empenhada em avançar neste assunto. Se tiver algum subtema que vc considere relevante, sugestões serão muito bem-vindas! Principalmente por pessoas que vislumbram aspectos da segunda metade do ciclo de vida, geralmente desconsiderado na juventude… Abraços!
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Sim vamos sim, venho me interessando muito pelo tema da longevidade e até por experimentar a situação tendo mamãe encontrado algumas dificuldades em seu lar e precisando adaptar determinadas situações em nosso dia a dia. Acho que o primeiro passo seria democratizar estes assuntos e é justamente o que pretendo com o blog por aqui também, se você permitir gostaria de republicar alguns posts seus em meu blog, acho que quanto mais divulgarmos informações e orientarmos a quem interessa estes temas serão mais presentes em nossas vidas 🙂 Abraços Professora ! Estamos na luta 😀👍🏻
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Fique à vontade… já foram 152 postagens! Falo da casa, do bairro e da cidade, do sujeito idoso e seu suporte social, de moradias institucionais e da resistência em aceitar os limites que a velhice vai impondo. Enfim, falo do que me toca o coração. Abraços, boa sorte na sua empreitada!
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