Atividades intergeracionais são consideradas importantes para a consolidação de vínculos com os idosos, especialmente quando acontecem com crianças. Mesmo quando a capacidade motora e/ou cognitiva está comprometida, a proximidade ativa com outras gerações resgata lembranças remotas que, geralmente, levam a momentos de felicidade. Mas é no auge da vitalidade que as trocas podem ser ainda mais significativas, quando a criatividade permite que a imaginação carregue para além dos limites de quatro paredes.
Na animação Au fil de l’âge (França, 2015), traduzido como Conforme você envelhece, avó e neta estão envolvidas com criações costuradas para brincar e sonhar, desde a pequena boneca de retalhos até almofadas de tamanhos, cores e formatos diferentes (https://www.youtube.com/watch?v=-usciq-07fM). Ao som de músicas relacionadas à juventude da idosa, elas imaginam histórias em meio a tecidos coloridos, com personagens icônicos tais como bonecos dos Beatles cruzando uma Abbey Road inventada com tecidos. Mais do que isso, cruzam rios e campos costurados pela imaginação, plantando fios de linha que se abrem em flores. Anos após esse dia, a menina é uma mulher que lembra com saudade dos momentos criativos com a avó já falecida, um exemplo marcante para as decisões que definiram sua própria história.
Encontros intergeracionais podem ser proveitosos mesmo quando eventuais, em situações de trocas em atividades conduzidas para a produção de subjetividades. As moradias institucionais vizinhas a equipamentos infantis, ou as que recebem grupos de crianças com frequência, podem também definir relações significativas. Porém, é com a visita constante da família que se mantêm os laços mais duradouros, com a possibilidade de transmissão de lições aprendidas a partir de experiências vividas.
Muitas podem ser as histórias de vida entre avós e netos que inspiram carreiras e futuros. Alguns exemplos unem idosos e crianças, tais como profissões que são passadas às gerações seguintes, acervos de livros e coleções ou práticas de hobbies adotados pelos herdeiros. Especialmente se houver lembranças afetivas, a continuidade de preferências pode atravessar gerações, mantendo viva a memória de um idoso que se afasta da realidade ou esquece o lado bom da vida.
Os benefícios para avós e netos que desenvolvem atividades juntos são, entre outros, o fortalecimento dos vínculos parentais e o aprendizado mútuo que se estabelece quando há uma relação de confiança. Muitas realizações se perpetuam através do relato familiar e estimulam as relações significativas provenientes dessas experiências, capazes de gerar orgulho e admiração, elementos fundamentais que mantêm a união. Colhe-se o que é plantado, mas é preciso regar constantemente para que continue dando frutos. Relações intergeracionais, especialmente entre avós e netos, transformam a vida de ambos, adoçando os momentos e criando memórias ainda mais permanentes nas histórias de vida.