A permanência na própria casa é sempre preferível, principalmente quando há um suporte social composto pela família ou amigos. Porém, há um limite de fragilidade que exige maior cuidado, seja mantendo a comunicação por sistemas digitais ou pela supervisão de um cuidador. No livro intitulado Mortais – nós, a medicina e o que realmente importa no final (RJ, Editora Objetiva, 2014), o americano Atul Gawande discorre sobre sua experiência como médico e a fragilidade da velhice.
O progresso da medicina e da saúde pública tem disso uma dádiva incrível – as pessoas têm vidas mais longas, saudáveis e produtivas do que nunca. Porém, ao percorrermos esses caminhos alterados, encaramos a vida nas partes em declive com uma espécie de constrangimento. Precisamos de ajuda, com frequência por longos períodos, e enxergamos isso como uma fraqueza em vez de como o curso natural e esperado das coisas.
Ao refletir sobre a dependência natural que acompanha a velhice, independente de situações específicas como doenças, quedas e demências, discorre sobre o surgimento de alternativas de moradias que surgiram nos Estados Unidos para atender a crescente demanda de idosos que, morando sós, já não tinham condição de permanecerem na própria casa.
A razão pela qual os idosos acabavam em asilos, constatou-se, não era porque não tinham dinheiro para sustentar uma casa. Estavam ali porque haviam se tornado demasiadamente frágeis, enfermos, senis ou esgotados para continuar cuidando de si mesmos, e não tinham mais ninguém a quem recorrer para ajuda-los. (…) no decorrer da década de 1950, os asilos foram fechando e a responsabilidade por aqueles que eram classificados como idosos “desfavorecidos” foi transferida para os departamentos de previdência social, enquanto os doentes e inválidos foram colocados em hospitais. (…) Os hospitais pediram ajuda ao governo e, em 1954, os legisladores começaram a destinar recursos para a construção de unidades separadas para pacientes que necessitassem de um período prolongado de “recuperação”. E assim nasciam as casas de repouso atuais. Nunca foram criadas para ajudar as pessoas que estivessem enfrentando a dependência na velhice; foram criadas para liberar leitos em hospitais.
Descreve situações de idosos que perderam privacidade e controle sobre suas próprias escolhas, tais como o que vestir, a que hora acordar, o que comer e, principalmente, com quem dividir seu espaço privado. Eram instituições totais, geralmente isoladas do resto da sociedade. Destaca que é preciso estarmos atentos sobre os sinais que exigem providências para garantir conforto e segurança nesta fase da vida em que a fragilidade aumenta.
… fechar os olhos para a realidade tem seu custo. Protelamos as adaptações que precisamos fazer como sociedade e deixamos de enxergar as oportunidades existentes para mudar para melhor a experiência individual do envelhecimento.