Muitas pessoas consideram as instituições de longa permanência para idosos como um lugar para ficar isolado, pensando na proteção do morador ao mantê-lo sob cuidados de especialistas e na companhia de outros indivíduos em condições semelhantes. Embora estejamos passando por uma situação excepcional com a pandemia pelo novo coronavírus e, agora, seja necessário o distanciamento social, normalmente é importante que haja movimentos para o preenchimento do tempo livre, seja visitando ou sendo visitado por pessoas que participam da sua história. Do mesmo modo, retornar a lugares que tragam lembranças significativas exercita a memória e ativa os sentidos perceptivos, tão importantes para despertar sentimentos às vezes adormecidos.
A série Chocolate (Coréia do Sul, 2019), veiculada pelo canal Netflix, apresenta um romance entre dois personagens que se encontram e desencontram, mas há histórias menores ao longo dos episódios e uma delas chamou a atenção. Ao se reencontrarem num centro de cuidados paliativos, eles passam a conviver com o Sr. Kim, um idoso frágil que, desorientado, foi resgatado pelo diretor da clínica em um restaurante de comida chinesa. Compadecido, ampara-o para receber um tratamento adequado, embora ele pedisse constantemente para voltar ao restaurante e comer um determinado prato, o que fazia quando foi encontrado, pois acreditava que o filho voltaria para busca-lo. A história relatada era de que seu patrimônio teria sido transferido aos filhos que, sem paciência para tratar o pai demenciado, levaram-no àquele lugar e o deixaram lá. Porém, no leito de morte, o idoso pediu ao médico que avisasse aos filhos que fora feliz e levava boas lembranças, esperando que fossem igualmente felizes.
Apesar de ser um personagem secundário, o Sr. Kim representou alguém que manteve uma lembrança significativa, associando a comida daquele lugar com a presença do filho que o deixara lá. O que parecia ser uma atitude de pura teimosia, ao insistir para retornar ao lugar e saborear o tal prato, era na verdade um meio de procurar o reencontro, um laço que se manteve com o passado. Muitos idosos que passam a residir em moradias institucionais esquecem fatos, pessoas e lugares, mas alguns permanecem na memória, representando momentos de prazer, mesmo efêmeros. Proporcionar novos contatos com o passado pode resgatar reminiscências importantes para o exercício da memória e, no caso desse idoso, foi o paladar que manteve ligado àquela experiência.
Ambientes construídos, mesmo ao ar livre, possuem elementos variados que os compõem, estimulando os sentidos da visão, audição, olfato e tato. Podem oferecer lembranças até ao paladar, pois um parque onde houve um piquenique em família, ao ser revisitado, pode trazer todos esses elementos à memória. Ativar experiências sensoriais transforma o sentido do morar em qualquer contexto, mas no institucional é ainda mais significativo, mantendo viva a história de cada indivíduo através dos seus momentos mais importantes.