Caracteriza-se uma moradia como um lugar que abriga, estimula os sentidos e oferece conforto, garantindo bem-estar. Normalmente são investidos tempo e dinheiro para tornar esse o lugar bom para viver, agregando facilidades em materiais agradáveis e com tecnologia em constante atualização. A cada dia surgem novidades para o corpo e para a alma, e as propagandas prometem prazer, status e eterna juventude, bombardeando as redes de comunicação com ofertas que estimulam o desejo de consumo que, se não forem corretamente avaliados, resultam em dívidas e frustrações. Mas certamente o prejuízo definitivo seja a solidão, pois respeito e amizade não se compram, são conquistas lentas e graduais.
No curta Hapiness (Inglaterra, 2017), de Steve Cutts (https://www.youtube.com/watch?v=e9dZQelULDk), cidadãos de uma grande metrópole são representados por ratos, cercados por estímulos midiáticos que oferecem felicidade ao consumir os mais diversos produtos. Para alcançar o tal estado pretendido, o protagonista submete-se a sacrifícios impostos pela competição nas rotinas diárias, desde o espaço apertado nas calçadas e no transporte de massa, até a compras num ambiente selvagem de uma loja que oferece promoções. Apesar de exausto, recupera o ânimo ao assumir o volante de um desejado carro esporte que, preso no congestionamento, é multado, pichado e roubado, deixando-o novamente desanimado e sem possibilidade de reação. Recorre à oferta de felicidade em bebidas alcóolicas, que pioram seu estado, levando-o a buscar pílulas farmacêuticas para “fugir” artificialmente do mundo real, ilusão que logo também se desfaz. Literalmente persegue o dinheiro, culminando no aprisionamento a um emprego onde é nitidamente infeliz, representado por uma enorme ratoeira.
O jornalista Wilson Roberto Vieira Ferreira expõe sua opinião sobre o curta, em http://cinegnose.blogspot.com/2017/11/curta-da-semana-happiness-quando.html:
Se na filosofia grega da antiguidade a “felicidade” era um conceito ligado à ética (a estreita relação entre a virtude de caráter, a felicidade e a importância dos bens externos como a saúde, a riqueza e a beleza), na sociedade de consumo apenas os bens externos foram considerados e a virtude de caráter esquecida.
A busca pela felicidade ao longo da vida poderá conduzir à definição do melhor modo de morar na velhice se houver um equilíbrio entre o “ter” e o “ser”, já que amealhar patrimônio e dinheiro não garante boas companhias, muito pelo contrário: a falta de atenção à família e a amigos leva à solidão, rompendo vínculos de modo definitivo. Sempre haverá a possibilidade de um resgate ou de construírem-se novas relações sociais, mas isso somente acontecerá se houver um empenho de mudança. Pertencer a um grupo social é parte do ato de habitar e, no final das contas, conforto é muito mais do que estar em um lugar luxuoso e com os serviços à disposição. Se não houver abraços, a procura da tal felicidade continuará, provavelmente em vão.
Eu nāo conhecia esse vídeo, que sufoco! Mas muito real, impossível nāo haver identificaçāo. Como cair fora? A velhice facilitará esse reconhecimento e facilitará uma mudança depois de uma vida nesta roda? Difícil saber, mas é possível.
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A reflexão é essa: corremos atrás de recursos para tornar a vida mais feliz, muitas vezes submetidos a situações de infelicidade. Repensar sobre o que somos prioritariamente ao que temos pode facilitar a perspectiva sobre escolhas na velhice, especialmente sobre como e onde morar…
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